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O ‘direito a ser esquecido’ na Internet está diferente. Saiba o que muda

 2016-03-08

Luso Cuanza: O direito a ser esquecido na Internet está diferente. Saiba o que muda

Os internautas europeus podem pedir aos grandes motores de busca para eliminarem dos seus resultados de pesquisa links com resultados que sejam inadequados, irrelevantes, excessivos ou fora do interesse público e onde estejam referidos. 

O direito a ser esquecido - ou o direito a ser retirado, como a Google prefere chamar-lhe - é internacionalmente e judicialmente reconhecido desde maio de 2014. De lá para cá tem havido muita discussão sobre os limites do direito, sobre o papel das tecnológicas no seu cumprimento e até que ponto não estarão a ser violados outros princípios, como o da liberdade de expressão, para que este direito seja consagrado.

Até à data a Google já recebeu 398.829 pedidos de remoção de um total de 1.401.996 links. Mais de metade dos pedidos, 57,4%, foram atendidos. Os restantes foram negados. Olhando para os dados relativos a Portugal a Google recebeu 3.132 pedidos para um total de 11.859 links - a taxa de remoção ronda os 75%.

São números que mostram bem a vontade que os internautas têm em ver ‘esquecidos ’alguns conteúdos relacionados com o seu nome. O Google é o caso mais referido pois além de ter uma quota de mercado no segmento das pesquisas superior a 90% em alguns países, foi um processo contra a tecnológica que ‘criou’ este direito.

Na prática não há um esquecimento real, no sentido da palavra. Aquilo que a tecnológica - e outras como a Microsoft ou Yahoo - faz é com que os links não surjam nos resultados das pesquisas. Eles são virtualmente removidos dos indexadores, não deixam mesmo de existir.

Mas porquê falar novamente no direito a ser esquecido? Porque a Google anunciou na sexta-feira passada, 4 de março, que a partir de agora os resultados da aplicação do direito a ser esquecido serão globais.

Esquecido em todas as versões do Google.

As alterações em curso são melhor explicadas com exemplos concretos, tal como a tecnológica faz no comunicado oficial. Vamos por isso criar a personagem ‘Manuel’.

O Manuel considera que existem resultados no motor de busca Google que atualmente são inadequados, irrelevantes, excessivos e não do interesse público. Pede então à Google para remover 30 links, por exemplo.

Até à semana passada o pedido de um utilizador da União Europeia só era removido dos motores de busca europeus. O pedido do Manuel só tinha efeitos no Google.pt, Google.es, Google.fr, Google.de, etc. Qualquer europeu que fizesse a pesquisa no Google.com ou Google.com.br - relativo ao Brasil - encontraria os resultados ‘esquecidos’.

Porquê? Porque a Google considerava que a decisão do Tribunal de Justiça Europeu apenas tinha aplicação prática nas versões europeias do motor de busca. Mas como é fácil aceder a qualquer outra versão, várias entidades defendiam que pouco estava a ser feito.

A Google ofereceu resistência neste sentido, mas agora parece ter cedido. A partir desta semana a tecnológica vai bloquear os pedidos dos europeus em todas as versões do motor de busca. Mas há um ‘asterisco’: o bloqueio só será feito para pesquisas feitas dentro da União Europeia.

Se o Manuel pesquisar pelos seus resultados já não os vai encontrar: nem no Google.pt, nem no Google.com, nem no Google.co.jp. Mas apenas se fizer a pesquisa a partir de um dos 28 Estados-membro.

Se estiver nos EUA a pesquisar no Google.com, por exemplo, já vai encontrar novamente os links que tanto queria ver removidos dos motores de busca.

Ainda não é uma remoção global por parte da Google, nem se sabe se um dia chegará a ser, mas aos poucos a tecnológica tem chegado a acordo com as autoridades europeias para novos entendimentos nesta área.

Um pouco mais de contexto.

Num dos seus blogues oficiais a Google explica que fará esta filtragem tendo em conta sinais de geolocalização - como o endereço de IP a partir do qual é feita a pesquisa - para restringir o acesso aos URL.

A tecnológica anunciou ainda que a medida terá efeitos retroativos, isto é, todos os URL já removidos dos motores de busca da Google vão ganhar uma remoção ‘global’ em contraste com a remoção exclusivamente europeia que estava em vigor.

Fonte: SapoTEK